POV Petra Arcantheon
Pov. Dos Deuses — Petra Arcantheon.
Minha história? Bem, talvez seja mais complexa do que as palavras possam traduzir. Eu não era a filha mais velha, nem a caçula. Nunca fui o orgulho dos meus pais, e tampouco me destaquei entre os filhos de meu pai. O que eu mais desejava, desde a infância, era ser reconhecida. Queria ser mais do que uma sombra entre os outros filhos, queria ser alguém que deixasse uma marca. Mas o que recebi em troca? Desprezo e pena, sempre os mesmos olhares vazios, como se eu fosse uma sombra indesejada que não merecia estar à altura de meus irmãos.
Desde muito cedo, tive um fascÃnio quase inexplicável por Absaydon. Ele era o único entre todos que parecia ter algo que eu queria profundamente, algo que nenhum dos outros possuÃa: grandeza. Mas ele, tão imerso em sua própria natureza, jamais pareceu notar minha adoração. E, para ser sincera, era mais do que admiração. Ele era meu ideal, a personificação de tudo o que eu queria ser. Havia uma beleza em seu ser que me deslumbrava, e, ao mesmo tempo, uma distância que eu não conseguia superar.
No entanto, nossa relação era… peculiar. Embora compartilhasse de um mesmo sangue, a linhagem nos separava. Como deusas, a linhagem Arcantheon era nossa herança, ativa no momento da concepção. Já os homens herdavam o sangue de Hayashida, o lado de nosso avô. Absaydon, meu meio-irmão, era isso: meu irmão, mas, ao mesmo tempo, alguém completamente diferente. O sangue de nosso avô o tornava um ser distinto, distante do que eu era. Mesmo assim, eu sonhava com a possibilidade de viver um amor impossÃvel entre nossas linhagens, uma história que só poderia existir nos recônditos mais profundos de meus pensamentos.
Entretanto, meu destino foi decidido não por forças celestes ou qualquer destino divino, mas por uma brincadeira… uma brincadeira estúpida do meu pai. Um jogo, um capricho que ele fez sem pensar nas consequências. Eu me tornei um experimento, uma vÃtima do egoÃsmo e da falta de consideração do homem que deveria ter me protegido. O que mais me dói é que, nessa brincadeira ridÃcula, eu fiquei incompleta, fraca, algo que não posso sequer descrever.
Se eu tivesse algo a mais, algo mais forte, talvez eu fosse digna de um lugar ao lado de Absaydon. Talvez ele olhasse para mim com outros olhos. Mas o que eu sou agora? Uma sombra sem alma, perdida em um jogo onde eu não fui sequer convidada. E tudo isso… tudo isso é culpa dele. Eu o odeio. Odeio cada poro do seu corpo por ter me arruinado dessa forma.
Por Mercúrio Deneb